Esse ano, particularmente
as datas coincidiram: o último dia da Páscoa judaica (Pessach) será no domingo, 20/04, dia em que a Cristandade a Páscoa e
a Ressurreição de Jesus Cristo.
Para muitos as datas não
têm nenhuma relação entre si, mas analisando com calma podemos verificar que
existem muitas semelhanças e simbologias que apontam para a Obra e a Pessoa do
nosso Senhor Jesus Cristo - pelo menos no meu humilde entendimento –, e
gostaria de deixar claro que não tenho por objetivo estabelecer nenhum estudo
teológico ou exegético, mas simplesmente procurar identificar através dos
símbolos e das características da comemoração que existem entre as duas datas e
como elas nos levam a verificar o grande amor e a infinita misericórdia de Deus
por cada um de nós.
Durante 400 anos o povo
hebreu residiu no Egito sendo que a maior parte desse período viveu em regime
de escravidão. A Palavra de Deus nos mostra que ao sentirem o peso que aquela
situação estava gerando, principalmente no que dizia respeito à incerteza em
relação futuro, começaram a clamar a Deus em busca do alivio de suas dores ou
quem sabe da própria libertação daquele jugo cruel.
Talvez no coração daquele
povo oprimido, o simples fato de serem reconhecidos como seres humanos por
parte das autoridades e do povo egípcio, já seria suficiente para fazer deles
pessoas mais felizes.
Quantos
de nós não nos sentimos assim às vezes?
Quantos de nós não
almejamos ao menos um pouco de simpatia por parte dos que nos rodeiam? Nem
precisa ser aquela simpatia “melosa”, onde ficam nos elogiando e valorizando o
tempo inteiro; para muitos de nós, apenas um olhar carregado de amor e uma mão
estendida em sinal de ajuda já seriam mais que suficientes para mostrar que
somos importantes não pelo que possuímos, mas pelo que somos: Seres humanos,
criados à imagem e semelhança de Deus, que a todos ama indistintamente.
Quantas pessoas passam por
essa vida sem ao menos sentirem-se amadas ou quem sabe, notadas por alguém?
Aquele povo sentia-se
assim: desamparado, perdido em meio a tanto sofrimento, e Deus, ouvindo o seu
clamor e entendendo que estava na hora de receberem o livramento tão esperado
levantou um homem, criado como filho da filha de Faraó, mas que carregava em
suas veias e em seu coração o sangue e a esperança de uma nação em formação.
Esse homem chamava-se Moisés. Destinado à morte pelos homens em seu nascimento,
fora preservado pela mão protetora do Senhor para a Seu tempo livrar o povo do
jugo da escravidão a que estavam destinados desde o momento no qual o povo
daquela nação (Egito) começou a olhar para eles com desprezo e inveja por
presenciarem as bênçãos que recebiam Daquele que eles entendiam como sendo o
Deus Único, que havia feito um pacto com seus antepassados, os patriarcas, e
que havia dito a Abraão que faria da sua descendência uma numerosa nação.
Verdadeiramente aquele
povo tinha motivos para acreditar no livramento, mas quantos realmente criam
que ele viria algum dia? Afinal, toda aquela geração havia suportado o peso da
escravidão e talvez nem soubesse viver em liberdade, pois esta, trás em seu
bojo a responsabilidade pelos atos praticados e eles não pareciam estar
conscientizados disso.
Todos conhecem a
maravilhosa narrativa do livramento que Deus concedeu ao povo hebreu. Desde a
saída gloriosa do Egito, até a abertura do mar Vermelho, ante os olhos
estupefatos de todos aqueles que confiaram nas palavras de Moisés e nas
manifestações de Poder exibidas pelo Senhor.
Para
o povo judeu esse dia santo celebra o mais importante evento de sua história,
pois representa a redenção de sua escravidão no Egito e a sua saída daquela
terra.
Aquele povo, assim que se
viu livre das garras de seus algozes, celebrou com jubilo o grande livramento
concedido pelo Senhor.
Na festa de Pessach alguns
símbolos são colocados sobre a mesa de refeições que une toda a família. É o
momento de contar toda a história desse grande livramento e das recomendações
para que nunca deixem de reproduzi-la principalmente para as crianças.
Sobre a mesa são colocados
os seguintes ingredientes, dispostos sobre três matzot (plural de Matzá (pão
não fermentado)):
Beitzá: um ovo que foi cozido e, depois
assado no forno. Ele comemora a oferta feita pelos peregrinos que iam até o
Templo em Jerusalém para o dia santo.
Zero’á: um osso assado, com um pouco de
carne. Simboliza o cordeiro pascal sacrificado na ocasião do Êxodo e, também,
durante o período do templo.
Maror: um vegetal amargo. O maror faz
lembrar quão amarga era a vida do povo judeu como escravos no Egito.
Charoset: uma pasta espessa, feita de maçãs
raladas, amêndoas moídas ou batidas, algum tipo de noz, mel ou açúcar como
adoçante e um pouco de vinho para umedecer tudo. Simboliza a argamassa da qual
os judeus enquanto escravos faziam tijolos no Egito, e por essa razão
considera-se melhor usar pedacinhos de canela em rama para dar gosto, porque
eles se assemelham à palha da mistura de lama e palha original.
Karpas: qualquer vegetal verde.
Para
o povo judeu Pessach significa o livramento humano, mas para nós, cristãos, a
Páscoa significa muito mais que um livramento físico:
trata-se de um livramento espiritual.
A Palavra de Deus nos mostra em Gálatas 4.4-7 que: “vindo, porém, a
plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a
lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção
de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito
de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho;
e, sendo filho, também herdeiro por Deus”
À semelhança do povo
judeu, nós também, estávamos debaixo do jugo e peso da escravidão do pecado que
nos corroia por dentro. O fogo abrasador do afastamento divino, consequência do
pecado original, era infinitamente superior ao calor produzido pelos fornos
utilizados para a confecção dos tijolos que aquele povo era obrigado a produzir
para seus senhores no Egito.
Quando olhamos para nossas
vidas antes de nosso encontro pessoal com o Senhor Jesus, podemos nos
transportar para aqueles momentos terríveis pelos quais passavam nossos irmãos
judeus.
Quando
Deus olhou o sofrimento daquele povo Ele estava contemplando toda a humanidade,
quer estivessem residindo naquela poderosa nação, quer estivessem abrigados ou
desabrigados no menor pedaço de terra no mais distante território da Terra.
Deus amou e continua amando o povo judeu, mas João nos
mostra que o Seu amor era e é muito mais amplo, quando diz que: “Porque Deus amou
ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao
mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por
ele.” (Jo 3.16,17)
Quando Deus decidiu preservar Moisés para que
libertasse um povo e o transformasse em uma nação sacerdotal, Ele estava
olhando para cada um de nós e no momento certo, quando as condições humanas
estavam favoráveis para que Seu “plano” fosse colocado em ação, enviou o Seu
próprio Filho para completar a obra que nenhum profeta, por mais poderoso,
humilde e dedicado que fosse poderia realizar: Salvar o ser humano e dar-lhe livre acesso à Sua presença gloriosa,
e essa tarefa não poderia ser realizada por ninguém que fosse gerado em pecado,
mas deveria ser manifestada por alguém que não tivesse nenhuma mácula, que
tivesse autoridade espiritual para passar por esse mundo, vivendo as mesmas
dificuldades e vicissitudes de qualquer ser humano, para que, em vivendo assim,
pudesse mostrar a todos nós que viver uma vida reta e santa é possível, apesar
das evidências serem contrárias.
Somente uma
pessoa poderia realizar essa maravilhosa obra de redenção, não apenas física,
temporal e material, mas espiritual e eterna: Jesus Cristo, o Verbo encarnado,
a mais pura manifestação do infinito amor de Deus por suas criaturas.
Jesus passou por esse mundo e teve as mesmas
dificuldades que todos nós temos: Foi desprezado e humilhado; perseguido e
maltratado; rejeitado por aqueles que se diziam amigos e companheiros;
abandonado por aqueles que nem um de nós acreditaria que pudessem fazê-lo; foi
considerado como escória e por pregar e viver intensamente o amor de Deus foi
considerado culpado e conduzido à morte para que se cumprissem as Escrituras.
Aquela sexta-feira que precedia o Shabat era
também a preparação para Pessach, o primeiro dia da celebração da festa.
No dia anterior todas as famílias judaicas haviam
retirado de suas casas todos os alimentos fermentados, para que durante as
festividades, não houvessem alimentos considerados impuros, mas naquele que
seria o dia em que a família se reuniria em torno da mesa para contar a
história do livramento material que Deus concedera aos seus antepassados, naquele mesmo dia, estavam crucificando
Aquele que os havia libertado com mão forte do Egito e que agora viera cumprir
o propósito daquele livramento, resgatando em Si mesmo, não apenas aquelas
famílias que festejam em suas casas, mas toda a humanidade.
Aquela sexta-feira para nós e Shabat para
eles, representou um instante de sofrimento e dor inaudita, mas ao terceiro
dia, no domingo, que hoje festejamos como sendo a Páscoa Cristã, Ele ressurgiu
dos mortos para completar definitivamente a Sua Obra. Ele havia carregado o
pecado de toda a humanidade e a partir daquele momento concedeu a cada um que
cresce naquela manifestação divina pudesse novamente se reconciliar com o Pai.
Ele não
deixou escrito que deveríamos comemorar essa data com alimentos simbolizando as
passagens adversas que tivemos em nossas vidas pecadoras, mas deixou-nos uma
ordenança que mostra o quanto Ele ama, não apenas a nós que já o reconhecemos
com Senhor e Salvador, mas quanto ele ama a todos quantos ainda não tiveram
esse entendimento e que ainda jazem debaixo do jugo da escravidão do pecado e
da morte espiritual.
Ele disse: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como
eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida
em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando.
Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas
tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.
Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós
outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a
fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Isto vos
mando: que vos ameis uns aos outros.” (Jo 15.12-17)
E seguindo
as ordens de Jesus, o que devemos fazer para demonstrar o Seu amor por toda a
humanidade, mostrando que o dia de Pessach (livramento físico) e o dia da
Páscoa (ressurreição espiritual) são todos os dias? Seguindo a orientação de
Paulo a Timóteo: “prega a palavra, insta,
quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a
longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã
doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias
cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à
verdade, entregando-se às fábulas.” (2 Tm 4.2-4), e “...Ide
por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado
será salvo; quem, porém, não crer será condenado.” (Mc 16.15,16)
Que o Senhor
Jesus nos dê um coração amoroso e compassivo, que identifique em nossos irmãos
não apenas a necessidade de um livramento material da escravidão das
dificuldades que a vida apresenta (Pessach), mas principalmente, que Ele nos
ajude a identificar em nossos próprios corações a necessidade de livrar nossos
irmãos da escravidão do pecado e da morte espiritual (Páscoa).
Sempre juntos em Jesus.
Antonio Carlos, aprendiz de servo.