segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

IGREJA E AÇÃO SOCIAL - A fé na dimensão da ação.

Por que a Igreja precisa se envolver com ação social?
Essa pergunta já deveria estar ultrapassada no cotidiano missionário das igrejas locais, mas de tempos em tempos ela surge com maior ou menor força. É muito difícil encontrar um pastor ou um crente fiel que considere a ação social algo desnecessário ou não essencial na missão da Igreja.
De fato, o que incomoda mais e causa muitos preconceitos são algumas questões teológicas e ideológicas que precisam ser melhor entendidas e, em alguns casos, superadas.
Quando a igreja opta por uma Teologia que enfatiza a ação social, é comum surgirem resistências dos grupos mais conservadores. Assim foi com Walter Raushenbush, principal criador e articulador da Teologia do Evangelho Social, teólogo-pastor que soube conjugar adequadamente o amor a Deus e o amor ao mundo no início do século XX, nos EUA, mas que foi duramente criticado pela centralidade da ação social em sua Teologia.John Wesley, fundador do movimento metodista, na Inglaterra do século XVIII, também enfrentou os mais conservadores de sua época quando optou por anunciar e viver um evangelho com dimensão social. Por exemplo, a doutrina da santificação wesleyana inclui dois movimentos que devem estar integrados: os atos de piedade e os atos de misericórdia. Para Wesley, não há santidade sem a conjugação adequada desses dois aspectos. Segundo ele, a santificação se alarga e se concretiza na interação humana. Enquanto a justificação pressupõe um ato de fé pessoal e intransferível, a santificação pressupõe a existência do outro, do próximo, tanto no nível comunitário eclesiástico como na esfera pública.
Na tradição wesleyana, ninguém se santifica sozinho, pois a santificação é sócio-comunitária.
No entendimento de Wesley “não há santidade que não seja santidade social (...) reduzir o Cristianismo tão somente a uma expressão solitária é destruí-lo”.O ministério de Jesus, conforme relatado nos Evangelhos como memória de fé das primeiras comunidades cristãs, evidencia a primazia da fé em ação, da prática das boas obras, ou seja, da ação social.
Lembremos apenas a ênfase posta na prática ao fim do Sermão da Montanha (Mt 7, 21-27), a parábola dos dois filhos (Mt 21, 28-32) e a do julgamento final (Mt 25, 31-46).
Um forte exemplo da importância da ação social está na parábola do ‘último julgamento’ (Mt 25, 31-46), onde Jesus aponta com clareza quem participará do Reino preparado desde a fundação do mundo: “Vinde, benditos de meu pai, recebei o Reino (...), pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e vieste ver-me” (Mt 25, 35 e 36).Portanto, a ação social não pode ser vista ou compreendida apenas como dever, no sentido de uma obrigação formal e farisaica, pois ela é parte integrante da Missão da Igreja e deve ser acolhida como fruto natural de uma fé integral que tem, pelo menos, três elementos essenciais: afetivo (esfera dos sentimentos, das emoções); cognitivo (esfera da razão) e comportamental-normativo (esfera da ação).
Portanto, a relação com Deus “implica conhecê-lo, amá-lo e servi-lo”. Sendo assim, a ação social, como uma das dimensões da fé em ação (práxis da fé), é essencial para a vivência do Evangelho.
Clóvis Pinto de Castro Pastor metodista, docente do programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião e vice-reitor Acadêmico da Universidade Metodista de São Paulo.

Um comentário:

  1. Acredito que todos nós temos a obrigação de nos envolvermos com ações sociais. Estamos aqui para ajudar. Não há uma pessoa que não tenha o que receber, como não há uma pessoa que não tenha o que doar. É nesta troca que crescemos. Grande abraço.

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