Longânimo é aquele que
suporta pacientemente o mal ou a provocação que lhe é desferida e que, mesmo
sabendo estar certo em seu posicionamento, recusa-se a perder a esperança na
possibilidade de melhorar seu relacionamento com o ofensor.
O que isso quer dizer?
Quer dizer que apesar de
saber que a razão está ao seu lado, que teria todos os motivos para fazer valer
os seus direitos, que se tomasse uma atitude mais drástica em relação ao seu
ofensor, todos, não somente entenderiam, mas aprovariam sua conduta. Ainda
assim ele faz exatamente o contrário: tenta de todas as formas promover a paz e a reconciliação com o ofensor. Mesmo
diante da recusa de seu interlocutor, recebendo em contrapartida, não poucas
vezes, ainda mais impropérios e sentimentos odiosos ele permanece fiel ao seu
ideal: promover sempre a paz e o entendimento.
Salomão dizia que uma
pessoa que age assim é melhor que o herói de guerra: “Melhor é o longânimo do que o herói da
guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade.” (Pv
16.32)
Certamente, aquele que
voltou de uma sangrenta batalha, merece todas as homenagens pelo seu retorno,
afinal de contas, estava colocando sua vida em perigo e lutando não apenas por
si mesmo, mas pelo bem-estar de toda a nação.
Por mais que tentemos,
será difícil imaginar quantas lutas, angústias e perigos esse soldado enfrentou
para manter-se vivo. Apenas aqueles que estiveram com ele no campo de batalha
podem dimensionar todo o seu sofrimento, pois passaram pelos mesmos desafios.
Inúmeras foram as vezes em
que viu a morte de perto e em certos momentos acreditou que não conseguiria
escapar aos ferozes ataques de seus inimigos.
Poucas pessoas são capazes
de entender o estado íntimo de homens como esses, que são forçados a matar seus
semelhantes para pouparem a própria vida, contrariando princípios que até então
regiam suas vidas e praticar atos que nunca imaginaram realizar.
Notadamente, esses homens
merecem receber condecorações por tão bravos feitos realizados pelo maior de
todos os combates: o de terem conseguido sobreviver a todas aquelas
atrocidades.
Hoje
em dia também podemos identificar esses heróis.
São
os nossos heróis urbanos. Convivem entre nós e assim como os soldados que após
a guerra caminham pelas ruas sem seus uniformes, também enfrentam seus dilemas
e conflitos pessoais, mas nem sempre são notados pela multidão que caminha à
sua volta.
Eles não pegam em armas de
fogo para conseguirem sobreviver; fazem parte, na sua grande maioria os
executivos, empresários e políticos, mas também os vemos nas camadas mais
pobres da população, em trabalhos subalternos, lutando para sobreviver com os
parcos recursos que essa sociedade desumana e cruel lhes impõe.
De um lado temos homens e
mulheres bem sucedidos profissional e financeiramente, e de outro, homens e
mulheres que se sentem frustrados por não disporem dos meios necessários para
galgar posições que a seu ver lhes trariam projeção e tranquilidade.
Todos, à sua maneira,
almejam estar em melhores condições, entendendo que com isso sentir-se-ão mais
protegidos e amparados.
Não é crime nem pecado
almejar um lugar de destaque neste mundo, buscar uma vida mais confortável ou a
satisfação de suas maiores aspirações. Creio ser uma necessidade básica de
todos os seres humanos essa busca por algo melhor.
Mas infelizmente, muitos daqueles
que procuram alcançar seus objetivos, agem como os heróis que voltaram dos
campos de batalha: entendem que
todos à sua frente são inimigos em potencial e devem ser destruídos.
São homens e mulheres que
enfrentam todos os tipos de adversidades e conseguem não apenas sobreviver a
elas, mas se fortalecem cada vez mais, preparando-se para novas lutas e
conquistas, mas a maioria ainda não está preparada para a maior de todas as
batalhas: a luta contra si mesmo.
Como é difícil o homem
vencer a si mesmo.
No campo de batalha, quase
sempre, vence o que está melhor preparado, o mais valente, aquele que dispõe do
melhor armamento, que adota a melhor estratégia, mas quando estamos a sós, não
sabemos o que fazer em relação a nós mesmos.
Olhamos para os nossos
defeitos e achamos que são naturais perante uma sociedade selvagem como a que
vivemos.
Olhamos para o nosso
descaso em relação ao nosso semelhante e entendemos que se estivéssemos na
mesma situação fariam o mesmo conosco e por esta razão não fazemos
absolutamente nada para ajudá-lo.
Presenciamos a indiferença
que há em nós em relação a Deus e dizemos que se não agirmos ninguém poderá nos
ajudar, nem mesmo Ele.
Conseguimos facilmente
identificar os erros de todos à nossa volta, mas não conseguimos identificá-los
com a mesma facilidade em nós mesmos, apesar de sabermos que estão presentes. A
diferença é que quando os erros são cometidos por outras pessoas os condenamos,
mas quando somos nós que os praticamos: justificamos.
Você
já percebeu como conseguimos justificar todos os nossos defeitos?
Nosso amigo fala mal das
pessoas que conhece porque tem inveja delas, mas nós fazemos o mesmo comentário
porque queremos ajudá-las...
Nosso amigo não faz favor
a ninguém porque é arrogante e prepotente, mas nós não fazemos porque nunca
temos tempo, apesar de estarmos sempre livres para atividades que nos agradem...
Nosso amigo tenta “puxar” o
tapete do chefe porque não tem capacidade de ocupar o seu lugar por meios
naturais, mas nós fazemos a mesma coisa porque apesar de todos saberem que
somos capacitados nunca nos valorizam...
Vivemos na época das
conquistas.
No inconsciente coletivo,
o negócio hoje em dia é conquistar não importa por quais meios. Desde que se
obtenha o êxito desejado tudo é válido.
Se desejamos um mundo
melhor, olhemos para dentro de nós mesmos e com sinceridade busquemos
identificar o que mais condenamos em nossos semelhantes. Com toda certeza
identificaremos em nós muitas deficiências de que os acusamos.
Depois de identificá-las,
busquemos forças em Deus para nos modificarmos e que a cada nova análise,
possamos reconhecer que estamos condenando mais o que há em nós do que o que há
em nossos irmãos.
Quando conseguirmos
alcançar esse estágio, com certeza nos sentiremos melhores e veremos o mundo à
nossa volta de maneira diferente: ao invés de um campo de batalha no qual
lutamos arduamente para sobreviver, veremos um campo fértil onde o Amor de Deus
necessita ser semeado e seremos os primeiros a empunhar as nossas novas armas:
Amor, compreensão, solidariedade e companheirismo.
Precisamos entender que ao
pronunciamos uma frase, nossos ouvidos são os mais próximos de nossos lábios,
fazendo com que sejamos os primeiros a ouvir o que expressamos. Sendo assim,
procuremos expressar palavras que edifiquem ao invés de destruir, que aproximem
ao invés de afastar, que promovam a paz com todos ao invés de disseminar a
guerra em toda parte. Deus honrará nossas palavras e nos ajudará a melhorarmos
dia a dia.
Que o Senhor nos dê um
coração manso e humilde para identificarmos nossas deficiências e
principalmente coragem e disposição para superá-las.
Sempre juntos em Jesus.A.Carlos
(Texto extraído do livro "Na Dimensão do Espírito - Volume I"- Autor: Antonio Carlos da Cunha)