quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Coisas que não mudam nunca!


Morreu ontem meu grande amigo de muitos anos, e meu mentor. Era pregador extraordinário, orador por excelência. Pertencia à velha escola. Sempre de camisa e gravata, alinhado e elegante. Terno de três peças, de preferência. Camisa branca, bem passada, colarinho imaculado. Sapatos brilhantes. Cabe­los penteados. Bem barbeado. Bem vestido sempre. Roupa sob medida. E que havia sob todo esse exterior tão bonito? Caráter. Sólido como rocha.
Qual era seu estilo de pregação? Forte. Às vezes, dogmático. Com freqüência muito eloqüente. Muitas aliterações e, perto do final, um poema memorizado. Sermões semeados de ilus­trações que quase sempre se iniciavam assim: "É conhecida a história de..." Quase nunca usava humor. O sermão era pleno de dignidade, um tanto distante, místico, profundo no pen­samento, a voz nas escalas mais baixas. Inúmeros livros en­cadernados em couro, na biblioteca. Determinado a manter bem elevada sua vocação ministerial. Pele tostada, olhos pro­fundos, dentes alinhados. Confiante em si mesmo, sem ser arrogante. Simpático, sem ser frívolo.
Jamais demonstrou um sinal sequer de futilidade tola. Não era o tipo de homem que você esperaria ver sentado, de pernas cruzadas, à frente da casa, brincando com as crianças. Ou na cozinha, lavando louça. Trocando o óleo do carro. Pulando do último trampolim, numa pirueta. Fazendo manobras perigosas numa rodovia. O homem tinha muita classe.
Não é que ele fosse superior a tudo isso; o caso é apenas que, em seu tempo, os ministros do evangelho mantinham uma atitude bem definida e séria. Se não estivesse pregando, meu amigo estaria preparando-se para pregar. Se não estivesse orando, teria acabado de orar. Francamente, nunca estive na presença dele sem sentir grande reverência. Embora já fosse homem feito, eu me sentava direito, no escritório dele, res­peitoso, e chamava-o de senhor. Quando ele punha a mão em meu ombro e orava para que Deus guiasse "este jovem aqui" e que me usasse, estando já "separado para o ministério do Mestre", eu me sentia como se houvesse sido ordenado ca­valeiro do rei. Porejava integridade, esse pastor. Seus conse­lhos eram insuperáveis. Seus pensamentos e palavras tinham prístina pureza — bem passados, engomados, limpos e bri­lhantes como hábito de freira. Ao assomar ao púlpito, erguia-se ereto, digno, cheio de graça — certamente um dos melhores pregadores de seus dias, ilustração viva do "Salmo do Cava­lheiro"... salmo 15.
Contudo, grande parte das coisas "da época antiga" já se foi. O trato das pessoas hoje é muito diferente. Os dias de meu amigo falecido foram os dias de Walter Winchell, Jorge Patton e Norman Rockwell. Imperava uma filosofia séria, cujas linhas gerais eram bem delineadas e definidas, em que os sermões tinham mão única. Não se falava em diálogo... E quanto à vulnerabilidade dos líderes? Anátema. Como mudaram os tem­pos! Não há uma única profissão que não tenha sido forçada a mudar, abrindo brechas para alterações inevitáveis, muitas delas essenciais.
Pensei nisso, há pouco, ao ler uma "descrição de cargo" dirigida às enfermeiras de um hospital, em 1887. Vocês, en­fermeiras e médicos, vão rir com incredulidade.
Há alguém mais que esteja contente porque tem havido mui­tas mudanças, desde 1887?
Sim, o tempo muda as coisas... às vezes drasticamente. Mu­dam os estilos, como mudam as expectativas, os salários, os sistemas de comunicação, os relacionamentos entre pessoas, e até as técnicas de pregação.
Todavia, certas coisas jamais deveriam sofrer mudanças. Por exemplo: o respeito pelas autoridades, a integridade pessoal, a sanidade dos pensamentos, a pureza das palavras, a santi­dade no viver, os papéis bem distintos atribuídos à masculinidade e à feminilidade, a lealdade a Cristo, o amor à família e o autêntico espírito de serviço. As qualidades de caráter jamais ficam à mercê de ataques irreverentes.

DEVERES DAS ENFERMEIRAS EM 1887
Além de cuidar de seus cinqüenta pacientes, cada enfermeira deverá obedecer aos seguintes regulamentos:
1.
Varrer e espanar diariamente seu pavilhão, esfregando um pano molhado no assoalho; tirar o pó dos móveis dos pa­cientes, e das soleiras das janelas.
2. Manter uma temperatura agradável em seu pavilhão, tra­zendo um balde de carvão para as atividades do dia.
3. A luz é importante para poder observar-se as condições dos pacientes. Portanto, todos os dias: encher os lampiões de querosene, limpar as chaminés e aparar os pavios. Lavar as vidraças uma vez por semana.
4. As anotações das enfermeiras são importantes, para ajudar o trabalho do médico. Ter o máximo cuidado ao confeccio­nar suas penas de escrever. Pode-se cortar os bicos das penas segundo o gosto pessoal.
5. Cada enfermeira em plantão diurno deve comparecer todos os dias às 7 horas e deixar o trabalho às 20, exceto aos domingos, quando a enfermeira poderá ausentar-se entre as 12 e as 14 horas.
6. As enfermeiras formadas que gozem de boa reputação junto ao diretor de enfermeiras, terão uma noite de folga por se­mana, para propósitos de namoro, ou duas noites, se vão regularmente à igreja.
7. Cada enfermeira deverá deixar de lado determinada porção de seu salário, a fim de poder gozar de alguns benefícios durante seus anos de declínio, e não vir a tornar-se um fardo. Por exemplo, se você ganha trinta dólares por mês, deverá pôr à parte quinze dólares.
8. Toda e qualquer enfermeira que fuma, bebe álcool sob qual­quer forma, vai a salão de beleza a fim de pentear os cabelos, ou freqüenta salões de bailes, dá boas razões ao diretor de enfermeiras para suspeitar de seu valor, de suas intenções e de sua integridade.
9. A enfermeira que desempenhar suas funções, e atender a seus pacientes e médicos com toda fidelidade, sem cometer faltas, durante um período de cinco anos, receberá um au­mento de cinco centavos por dia, da administração do hos­pital, desde que o hospital não tenha dívidas elevadas.
Meu amigo e mentor partiu. Muito do seu estilo foi-se com ele. Contudo, o estofo áureo que o tornou grande — ah! que nós jamais nos esqueçamos de seu caráter. Os tempos podem mudar. E o caráter? Jamais. Nem na vida... nem na morte.

A Busca de Hoje

Como é a vida? "Um vapor," responde-nos Tiago (4:14). "Neblina que aparece por instante." "O homem, nascido de mulher, vive breve tempo... nasce como a flor, e murcha; foge como a sombra, e não permanece" (Jó 14:1-2). Embora de­monstremos aparência de segurança, nossa vida é marcada pela incerteza, adversidade e brevidade. São razões mais que suficientes para que ganhemos uma perspectiva correta quanto à maneira de viver. O caminhar com Deus produz esse efeito. Não nos dá garantia de que viveremos mais tempo, mas ajuda-nos a viver melhor. Com maior profundidade. Maior largueza. Visto que você nada sabe a respeito do dia, da semana ou do ano que se estende diante de você, entregue-se de modo re­novado a Deus, pois ele sabe de antemão como serão os tempos e estações.
Leia Tiago 4.
(Texto extraido do livro “A busca do caráter” Charles Swindoll- Ed.Vida- 1991)

Um comentário:

  1. Antonio. Passou o Natal, e com ele, aquela sensação de acomodar num só dia o atraso de bondade e humanidade do ano inteiro.
    Façamos diferente. Que possamos destilar um pouco desse espírito natalino em doses diárias no ano que se inicia.
    Obrigada pela convivência maravilhosa em 2009. Que esta amizade seja renovada em 2010. Beijos.

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