quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A MALEDICÊNCIA NA IGREJA



A Bíblia registra a preocupação de Deus com a maledicência no meio do seu povo, desde os primórdios da história de Israel. No Decálogo, já aparecia este mandamento: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx. 20.16). No desenvolvimento da lei, quando alguns pormenores são adicionados, encontramos esta recomendação específica: “Não levantarás falso boato, e não pactuarás com o ímpio, para seres testemunha injusta” (Êx. 23.1). No Novo Testamento, Tiago apela: “Irmãos, não faleis mal uns dos outros” (Tiago 4.11).

NATUREZA DA MALEDICÊNCIA

Maledicência é difamação. Significa o hábito de falar mal das outras pessoas. Maledicência inclui murmurações, insinuações e suspeitas injustas, mexericos, falso testemunho, boatos falsos, meias verdades.
Maledicência abrange também a divulgação de notícias a respeito de outras pessoas, com objetivos maus. Mesmo que tais informações correspondam à verdade, não temos o direito de veicular más notícias sobre o nosso próximo, se isso não contribui para ajudá-lo, e para ajudar a causa.
Os filhos de Labão diziam que Jacó se tornara rico, mas sua riqueza teve como origem os bens do pai deles (Gn 31.1). Isso não deixava de ser verdade. Mas era maledicência, porque tal declaração tinha por objetivo menosprezar e ferir Jacó. Hamã, o ministro de Assuero, falou mal dos judeus ao rei, exagerando o isolacionismo do povo de Ester (Ester 3.8). Os inimigos de Jeremias maldiziam o profeta ante o rei Zedequias, atribuindo-lhe maus objetivos e propósitos (Jr 38.4). Aqueles que desejavam a morte de Estevão subornaram alguns homens para que falassem mal do diácono de Jerusalém (Atos 6.11), Tértulo, o advogado dos inimigos de Paulo, caluniava o apóstolo quando falava diante do governador Félix em Cesaréia.

MALEDICÊNCIA NA IGREJA
As igrejas dos tempos apostólicos também sofriam de males semelhantes. Nem Paulo, o dedicado e incansável obreiro, era poupado da maledicência de muitos membros da igreja. Em Romanos 3.8, ele diz que alguns o caluniavam. O texto de I Coríntios 4.6-21 registra a defesa que Paulo fez de sua autoridade apostólica ante a maledicência de que era vítima em Corinto. Nos versos 12 e 13, ele afirma que fora injuriado e difamado. Em I Coríntios 9, Paulo se refere aos que o acusavam (v.3). Os capítulos 10 a 12 de II Coríntios foram escritos tendo em vista essa incompreensão de muitos em Corinto para com o ministério de Paulo. Problemas similares aparecem em outras epístolas, especialmente em Gálatas e Tessalonicenses.
Tiago dedica um capítulo aos pecados da língua. E entre eles está o da maledicência. Pedro recomenda deixar “toda a maledicência” (I Pe 2.1), refrear a língua do mal, e não falar engano (I Pe 3.10). A necessidade de tantos preceitos a propósito da maledicência indica a existência desse problema com bastante seriedade nas igrejas apostólicas.
O fato de ter havido tais problemas na Igreja dos tempos do Novo Testamento não justifica que eles continuem acontecendo também entre nós. Vivemos um estágio de experiência cristã bem mais privilegiado que o dos crentes daqueles tempos. Eles eram contemporâneos dos apóstolos, é verdade. Viviam em tempos próximo dos dias do ministério de Jesus. Mas não tinham acesso fácil à Palavra de Deus, como revelada nos dias do Antigo Testamento. Também não possuíam os Evangelhos, e estavam recebendo naqueles dias as Cartas apostólicas. Cabe-nos, pois, uma maior responsabilidade em afastar e extirpar a maledicência de nosso meio.

OS PREJUÍZOS DA MALEDICÊNCIA
Maledicência é pecado. E todo pecado separa o homem de Deus (Is 59.1,2). O maledicente prejudica-se a si mesmo, e, pertencendo ao corpo de Cristo, prejudica também a Igreja, pois ele se torna um membro enfermo (I Co 12.26).
A maledicência dá origem a contendas e dissensões (Pv 6.19 ; 16.28 ; 17.9). Uma igreja que abriga a maledicência será sempre uma igreja de rixas, de desentendimentos, de desconfianças, uma igreja onde o amor não medra, pois que onde há amor, não há maledicência. Ninguém fala mal, tentando prejudicar a quem ama.
Onde viceja a maledicência, a mensagem do evangelho terá sua divulgação prejudicada, pois que os não crentes jamais serão convencidos das excelências do evangelho, enquanto vêem os crentes falando mal uns dos outros, veiculando com más intenções as faltas e defeitos uns dos outros, ainda que estejam dizendo a verdade.

AJUDANDO OS IRMÃOS
O amor que une os crentes em Jesus Cristo leva-nos a ajudar-nos mutuamente. Isso não significa que devamos encobrir os pecados uns dos outros. Mas publicar os erros dos irmãos também não traz benefício nem ao irmão faltoso, nem a nós, nem à igreja, nem honra a Deus.
Jesus nos manda ganhar o irmão (Mt 18.15). Só quando todas as nossas tentativas falham, temos o direito de comunicar o mal à igreja. Paulo recomenda corrigir o irmão faltoso com espírito de mansidão (Gl 6.1). Tiago aplaude aqueles que salvam almas, e cobrem multidão de pecados, estendendo a mão ao pecador, e ajudando-o a levantar-se (Tg 5.20).
A nossa atitude há de ser sempre a de ajudar o irmão que caiu em falta. Nunca, porém, a de prejudicá-lo através da maledicência. As más palavras ditas a respeito de outras pessoas jamais poderão ser recolhidas. Um mal feito em termos de maledicência, praticado por nós, manchará a reputação de nosso irmão, além de mostrar de nossa parte uma injustificável falta de amor.
Se não temos algo de bom para dizer de nosso irmão, fiquemos calados. O salmista lembra que a maledicência é obra de ímpios: Mas ao ímpio diz Deus: “Tu te sentas a falar contra teu irmão; difamas o filho de tua mãe” (Sl 50.20). E o último livro da Bíblia, o Apocalipse ou Revelação, mostra que a obra da maledicência, da acusação aos filhos de Deus, é obra do Diabo (Ap 12.10).
Não colaboremos com Satanás, falando mal de nossos irmãos. Sirvamos, porém, a Deus, ajudando a levantar aqueles que caem para que o mundo conheça as sublimes excelências do Evangelho.

Pastor Omar Bianchi

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